6 de outubro de 2010

Prima Maldade.


Todo mundo tem momentos assim. E haja veneno!

Leia abaixo o texto "Prima Maldade" de Tati Bernardi.

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" Às vezes, minutos depois da chegada, ela desaparece com sua imensa mala vermelha cheia de apetrechos cortantes e pontudos.


Tão grande, forte, bonita.

Dá uma dor no peito aceitar o tchau, o carro já longe.

Eu sei que ela volta, a Maldade não dura muito mas sempre volta.

O problema é que dá a maior preguiça começar tudo de novo: as boas intenções, acordar cantando, sorrir que nem boba por aí.

Como eu queria, alguns dias a mais, que ela ficasse.

Essa prima que vem de longe só porque fico numa saudade infinita e imploro com minha melhor lábia!

Durante sua estadia, como nos divertimos!

Mulher se dá bem demais com esse tipo de parente.

E vai dizer que o mundo, com suas picuinhas, chatices,e falsidades, não merece essa linda e imbatível parceria brilhando ao sol?

É preciso sinceridade.

Existe essa coisa incrível chamada nobreza de caráter e fofurinha de alma.

A vontade de aceitar a vida, perdoar as traições, ser amiga de todo mundo, alegrar pessoas. Gostar de gente.

Pior: gostar das pessoas como elas são.

Mas existe também a anti-heroína ultracharmosa e necessária que vai mentir um pouco só para rir depois.

Vai dar o troco com gosto.

Vai fofocar até não suportar mais tanto veneno.

É ou não é?

Prima querida, a vida é muito melhor (e mais digna) sem você.

Mas quando você vem, junto chega essa sensação de ser inteira e honesta.

De saber que tem a hora de estender a mão mas tem também a de empurrar um pouco.

Santo é tão improvável que vira santo, já parou para pensar?

A bondade é essa loucura que me leva para longe.

Depois, na chuva, no escuro, no frio, na lama, eu pequena, o mundo gigante e quase impossível.

Eu olho para o chão e vejo seus saltos altíssimos de bico fino.

É ela que reaparece sarada e maquiada para me resgatar.

Ai subo em suas costas e não tem para ninguém."
 
(Tati Bernardi)

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